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2 de mar. de 2011

Father, Can You Hear Me? - Yentl...

Não sei porque hoje acordei me lembrando de algumas coisas do Beto relacionadas ao seu pai.
Ele dizia:

- Apesar de nunca ter gostado de futebol, me tornei Corinthiano na adolescência só para ter um assunto em comum com o meu pai, que sempre foi tão distante, dele eu só tive a presença física, nunca tive a amizade, mas eu sempre amei meu pai. Uma das piores tristezas do Beto foi a ausência do seu pai ao nosso casamento...

Quando meu sogro ficou doente, comecou a perder a memória recente (um sintoma da doença) ele se tornou uma criança a ponto de tomar as balas do Santhiago, e foi quando o Beto pode demonstrar todo o seu amor por seu pai, ele chamava o Beto a cada 5 minutos para pedir balas, chocolates, bolachas, e eu via tanto amor por parte do meu bom José, tanto carinho, que as vezes eu agradeço a Deus por ele ter acompanhado parte da doença do meu sogro. E apesar da falta de memória, quando o Beto se foi ele teve dois enfartos em seguida, na primeira vez, quando ele chegou do hospital  veio se arastando aqui em casa e disse:

- Cadê o Beto?
Eu lhe respondi que ele havia viajado e que eu não sabia quando voltaria porque a gente tinha se separado (eu não queria contar, tinha medo que ele  não resistisse)
Ele Respondeu:
- Então liga para ele agora, eu quero falar com ele!
Eu não sabia o que fazer, fiquei coversando com ele, absorvendo os poucos pensamentos que ainda lhe restavam, e ele disse:
- Vocês pensam que me enganam não é?
E pela segunda vez eu vi meu sogro chorar (a primeira foi quando eu cheguei com o Santhiago da Bahia, que ele carinhosamente chamou de meio kilo)...

Porque será que as pessoas tem tanto medo de demonstrar o amor que sentem, porque?
Temos que dizer e demonstrar todo o nosso amor hoje! O MELHOR DIA É HOJE, AQUI E AGORA.

O pai do Beto era uma pessoa boa, de bom coração, só não sabia dizer EU TE AMO, dar um beijo no filho, um toque físico, qualquer gesto que demonstrasse o seu amor. Graças a Deus, seu filho tinha amor em excesso, e demonstrava de todas as formas possíveis.

Todos os dias, quando eu voltava do trabalho, antes de entrar em minha casa, eu ia vê-lo (demorei depois que ele desapareceu, para perder o hábito), já no final, um dia eu o perguntei:
- Você me ama?
Ele olhou pra sua esposa que estava presente e disse:
- Assim você me complica.. (essa é uma das últimas lembranças que tenho dele, e como dizem que tudo há o lado bom, o da sua doença, foi a leveza, se transformou numa criança, inclusive na pureza).

Por coincidência, ou pela força do meu pensamento, hoje enquanto eu voltava do trabalho eu ouvi essa música:

PS - Uma das lembranças mais latententes em minha cabeça, é a do olhar perdido do meu sogro naquele dia...


Papai, você pode me ouvir?Deus.. Oh deus...
Que a luz desta vela quase apagando
Ilumine a noite
Como o seu espírito ilumina minha alma

Papai, você pode me ouvir?
papai, você pode me ver?
papai, você consegue me encontrar na noite?

Papai, você está perto?
Papai, você pode me ouvir?
Papai, você pode me ajudar a não ter medo?

Olhando pro céu
Parece que eu vejo milhões de olhos
Quais são os seus?
Onde você está agora, porque ontem
Você disse adeus
E trancou as portas?
A noite é tão mais escura
O vento é tão mais frio
O mundo que eu vejo é tão maior
Agora que estou sozinha

Papai, por favor, me perdoe!
Tente me entender
Papai, você sabia que eu não tive escolha?

Você consegue me ouvir rezando?
Alguma coisa que digo?
Mesmo se a noite estiver repleta de vozes?

Eu me lembro de tudo que você me ensinou
De cada livro que eu li
Será que todas as palavras dos livros
Podem me ajudar a encarar as mentiras que encontrarei à frente?

As árvores são tão mais altas
E eu me sinto tão menor
A lua é duas vezes mais solitária
E as estrelas bilham com metade da força

Papar, como eu te amo
papai, como eu preciso de você
papai, como eu sinto falta de você
me dando um beijo de boa-noite....

7 comentários:

Maria Helena disse...

As lembranças são companheiras que contam nossa história. E a sua história é de uma beleza que me encanta!
Que venham capitulos maravilhosos para que sua estrada seja regada de muitos momentos de sorriso e felicidade!
Bjs!

lolipop disse...

Vc está certa Sóninha...aqui e agora é o momento...para a vida e para o amor...E a existirem memórias, que sejam doces como estas...
Ternuras mil

Lúcia Soares disse...

Meu pai era´se´rio, sisudo, jamais sorria para os filhos, não dava broncas pois bastava olhar.
Mais para o fim da vida (mas tão cedo, ainda!) ele, já com netos, genros e noras, começou a se soltar, a se aproximar de nós, e teve tempo pra que o conhecêssemos e admirássemos.
Sei que ele me ouve, ainda hoje, passados quase 16 anos de sua ida.
(tem uma passgem linda no filme Yentl, com a Bárbara Streisand, onde ela canta e pergunta ao pai se ele pode ouví-la, e pensei que fosse essa música. Conhece o filme? Se não vai viajar no carnaval, pega numa locadora, vale a pena!)
Beijo!

Beth/Lilás disse...

Sônia,
Você tem lembranças tão lindas, valiosas mesmo, por isso vale a pena registrar por aqui.
Quanto ao filme Yentl é lindo, mas muito triste, prepare-se então.
bjs cariocas

Néia disse...

Oi Sonia...
É incrível, mesmo sem ter conhecido o Beto, ao ler suas histórias e relatos me sinto meio que íntima dele.A cada capítulo você mostra um pouco deste homem que parece que não media esforços para fazer você e o Santhiago feliz.Lendo o capítulo de hoje entendo o por que do pai presente querendo sempre agradar o filho sem medir esforços ( fusca branco), acho que toda esta necessidade, além do amor que ele tinha pelo filho, era também algo que talvez tenha desejado na infância e por inúmeros motivos não teve.Ninguém passa pela nossa vida por acaso, acredito sim, que nossas histórias são rascunhadas com uma certa antecedência, depois vamos escrevendo na vida real e hoje você está revisando tudo com muita competência.
Adoro te ler, pois você fala de vida com vida,fala de um amor belo e que vai durar para sempre.
Beijos para você e Santhiago e muita paz nesse coração.