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17 de out. de 2010

A Vontade...

A vida seguia seu curso normal com altos e baixos (mais baixos do que altos), até que numa certa ocasião seu pai (sou péssima pra datas) manifestou a vontade de ter um filho, eu sempre muito reticente, pois temia que uma criança tirasse o meu bem mais precioso: "A minha liberdade", e ele, sempre respeitando as minhas idéias (mesmo que discordando na maioria das veses) meio que guardava aquilo pra ele, mas eu sabia que dentro dele havia um vazio que só uma criança preencheria (enquanto isso ele ia se apegando cada vez mais com os filhos dos outros), e eu pensava: "Meu Deus, uma criança requer tempo, disponibilidade, doação, horários rigídos, não nasci pra ser mãe"!
Mas o amor é doação, e eu resolvi que daria aquele presente pra ele, só que de que forma, já que por vias normais não havia a menor possibilidade?
Foi justamente nessa ocasião que eu fiquei desempregada, e uma moça que trabalhava comigo na Empresa que saí (ela saiu antes de mim) me convidou pra trabalhar numa Clínica de Reprodução Humana (coisas do destino) com o médico mais fera nos bebês de proveta do Brasil (foi ele inclusive que fez a primeira reprodução humana no País, hoje esse bebê tem mais ou menos 30 anos)
Era tudo que seu pai queria:  E lá fui eu...Com menos de um mês lá já dei a real pro Dr. Milton: Eu queria um bebê daqueles (que ele meio que brincando de Deus, fazia quase que artesanalmente), eu ganhava um salário bom, que ficava inteirinho lá, pois o tratamento é carissimo, evidente que ele cobrava o minimo possível.
Ai começou a tortura filho, pois o tratamento fisicamente é devastador, são trocentos comprimidos por dia, umas três injeções, mede temperatura, exame de sangue a cada 48hs, coleta de semem etc. Isso se arrastou por 7 meses, foram três tentativas frustadas que consumiam a mim e ao seu pai (ele psicologicamente eu tanto fisicamente como psicologicamente)
Dr. Milton -Não deu Sônia! quatro tentativas é o máximo que você suportaria, vamos pra última que não tem nenhuma possibilidade de dar errado, dessa vez será com doador, chama seu marido pra gente conversar"
Eu  - Claro que não Dr. ter um filho de um doador? um cara que não sei da indole (eu acredito que o ser humano já nasce com 50% do caráter formado, a outra metade é moldado), não há a menor possilidade, eu não quero"!, mas mesmo assim ele queria conversar com seu pai.
Dr. Milton - José Roberto meu filho, eu nunca me empenhei tanto em um projeto, porque tenho a Sônia como uma filha e por consequência disso aprendi a gostar de você da mesma forma, e o sonho de vocês também é meu sonho (foram exatamente essas palavras filho) mas não deu Betão (isso de frente pro seu pai, em pé com as duas mãos nos ombros do Beto e olhando dentro dos olhos dele), só nos resta a opção do doador, que não dara errado, vocês tem duas opções: Ou com um doador que já esteja armezenado aqui, ou com alguém que vocês conhecam.
Beto - Já que não há outra opção eu topo: Pra mim os meios não significam mais nada, eu quero...
Eu -    Vocês só esqueceram de pedir minha opinião que sou a receptora de tudo, repetindo aos berros: "EU NÃO VOU FAZER ISSO NEM SOB TORTURA" - Saimos de lá chorando, mas seu pai sabia que eu não queria...e nos dias que se seguiram foi uma convivência insuportável, principalmente pela tristeza nos olhos do seu pai....

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