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7 de jan. de 2011

A Carta...


Hoje enquanto eu estava no trabalho me veio à cabeça a minha separação com o seu pai, foi um momento muito difícil e doloroso em nossas vidas, parte de mim queria ir parte de mim queria ficar, e nenhuma parte dele queria que eu fosse, mas eu tinha fome de mundo, eu precisava voltar inteira pra ele, porque seu pai sempre se  deu inteiro pra mim, e naquele momento eu era só um pedaço, só uma metade.
Agora a lembrança do dia exato veio com muita força em minha cabeça, parece que foi ontem, eu me levantei  cedo e  disse: “vou arrumar minhas coisas, eu não vou levar tudo, eu volto, me espera que eu volto”. Meu sangue cigano estava gritando dentro de mim, a minha inquietude  me absorvia todos os sentidos do corpo, eu  o amava muito, amava meus animais,  meus amigos, mas a minha alma é livre, e eu só me prendo por amor, não que naquele momento houvesse  a ausência dele, mas o amor é cultivado com pequenas coisas, é uma planta que precisa ser regada todos os dias filho, é um cristal muito frágil e delicado, não pode quebrar, as vezes é melhor  se ausentar para poder mensurar  a importância que se tem um pro outro, porque na minha forma de pensar e na minha intensidade, não se ama mais ou menos, eu sou completamente fogo, o amor estava ali, mas eu queria de novo a paixão que eu sentia por ele, queria ela de volta.
Um dia pela manhã, eu comecei a arrumar minhas coisas,  (minha saúde física estava por um triz, a mente é que comanda..E como já dizia o poeta: MENTE INSANA, CORPO INSANO), ele se segurando com as mãos trêmulas me ajudava , se esforçava, não falava uma palavra, apenas me ajudava. Uma das coisas que eu jamais vou esquecer: Quando nós teminamos de arrumar as malas, a Kaya uma Beagle que tinhámos se sentou em cima das malas e não saia, e me olhava como  que dizendo  "Tô entendo tudo" e seu pai disse:” Deixa a mamãe ir Kainha, ela vai voltar e tudo voltará a ser como era antes, vai ficar tudo bem”...
Ele me entregou uma carta, achando que era por falta de amor a separação, nunca houve falta de amor, só havia a necessidade do encontro comigo mesma, o resgate de minha essência, o resgate de mim mesma...  Então hoje filho, depois de tantos anos (isso foi no início do ano de 2000), eu resolvi ler essa carta, essa é a segunda vez que a leio, a primeira foi na Bahia, porque seu pai me pediu pra ler só quando eu estivesse lá.

Diz assim:

Sônia,
Resolvi te escrever coisas que não consigo dizer,
da boca, as palavras saem engasgadas, trêmulas,
e  não saem bem.
Resolvi te escrever coisas que não consigo dizer,
da boca, as palavras soam com ressentimento,
se desfazem com o vento.
Resolvi  te escrever coisas que não consigo dizer,
meu coração está saindo pela boca,
minhas mãos estão trêmulas,
meus pensamentos confusos...
Oito anos de vida juntos, quantos sonhos...

Soninha,
sonho se sonha juntos, meu amor é muito grande,
nem eu mesmo imaginava o quanto,
não consigo me imaginar vivendo sem você,
eu quero sentir suas mãos em mim até no momento derradeiro,
só você conseguirá fechar os meus olhos, porque mesmo assim,
eles estarão olhando fixamente dentro dos seus.
Amei e amo você até de longe, porque mesmo longe,
nós somos um só pensamento, uma metade que completa um ao outro,
Sônia é metade de Beto,
Beto  é metade de Sônia,
meu amor somado e divido em dois,
é mais que qualquer romance, escrito por um grande poeta.
Tudo que escrevi pode parecer infantilidade,
pois eu sei que nenhum amor é adulto,
minha paixão por você sempre esteve em evidência,
sempre esteve escrito no dia-a-dia,
eu apenas não demonstrava.
Soninha,
Eu te amo muito, me diz onde errei,
me diz o que faço pra ter você perto de mim por inteira,
mesmo que seja só pra te olhar, só pra te cuidar,
e te amar por nós dois...por Oitenta anos...
Beto..

Filho, nem sei se deveria expor aqui coisas tão íntimas de minha vida, seu pai era extremamente tímido, reservado, a ponto de não querer que eu lesse essa carta perto dele, talvéz pra não tornar as coisas mais difíceis naquele momento, mas eu quis deixá-la aqui, para que um dia, quando o implacável tempo destruir o papel em que ela foi escrita, você cuide dela pra mim...



12 comentários:

Blog da Fofa disse...

Ai q lindo post, q linda a carta do Beto. Q peninha da Kaya! Mas acho q deve ter trazido saudades sim, mas tbm a descoberta do amor mais forte do que já era antes. Bjão Soninha. Fike c Deus

lolipop disse...

Soninha...
Seu filho um dia vai sentir muito orgulho do Beto e de vc...
Eu queria...mas não tenho palavras para comentar.
Imagino o momento e a dor...sua...dele.
Carinhos
Ps Enviei um mail...

Maria Helena disse...

Oi, querida amiga!
Obrigada por ter nos presenteado com um momento tão lindo da sua vida! A carta que Beto escreveu é uma obra de arte que pincela o amor que ele sente por você, incondicionalmente!
Sua história é uma das mais lindas que já vi! Cheia de dor mas, sobretudo, de momentos mágicos e imperdíveis!
Eu me comovo com sua força! Você é uma guerreira!
Obrigada por estar aqui conosco e nos proporcionar um lindo presente em forma de postagem!
Sua história de amor é inesquecível!
Durma bem, viu?

Néia disse...

Oi Sonia...
É incrível este mundo, pois como pode, eu te conheço há tão pouco tempo e estou aqui sentada, imóvel lendo e chorando.Que lindo amor e que dígna a sua atitude, pois ninguém ama ou vive plenamente pela metade.Como já disse a sua vida daria um belo livro e uma bela homenagem ao seu amor.
Beijos Néia

Catiaho Reflexod'Alma disse...

Sabe Sonia, gosto muito de cartas, tenho tantas guardadas.
Mas elas assusta-me
pois quando a saudade bate
é como se quem a escreveu
estivesse ali em tinta...
Amo ler,amo escrever, amo enviar e amo receber cartas.
Lindo post.
Bjins entre sonhos e delírios

Nilce disse...

Oi Sônia

Quanto sofrimento tanto para ele como para você. A vida não é fácil e ninguém nunca disse que seria, mas nos fortalecemos no amor de nossos filhos.
Muito linda a carta e seu relato.

Bjs no coração!

Nilce

Faa Cintra disse...

Linda carta, lindo post.
As vezes algumas separações são necessarias para vermos e entendermos o tamanho do amor...

Beth/Lilás disse...

Sonia,
E desculpa nossa intromissão ao comentar esta tão íntima carta de vocês, mas só queria dizer que era tão lindo e imenso o amor de vocês que continua vivo no Santhiago. Cada vez que olhar pra ele, lembre-se disso, pois ele é o amor de vocês.
beijos cariocas

Maria Helena disse...

Sônia, querida! A dor agora fez reflexo no meu peito pois li seu comentário sobre a postagem de Carol sobre o bullying. Cada palavra sua calava fundo dentro de mim. É como se o Santhiago fosse meu filho e eu tivesse sentindo as dores de mãe! Mas , ao mesmo tempo, que sento a dor, um sentimento de alegria e alívio se instala em mim ao perceber que Santhiago além de ter asas tem uma mãe que o ajuda a levantar voos. Seu comentário deveria ser um post, sabia? A sua experiência seria um espelho para muitos!
Parabéns pela sua postura e por sua forma de conduzir Santhiago pelos caminhos da vida. Ele não poderia estar em mãos melhores!
Pode contar comigo, sempre! Bjs
Um ótimo domingo!

Regina Laura disse...

Sônia, que momento esse!!
Tudo tão especial...
Sua necessidade de encontrar consigo mesma, a carta que ele lhe escreveu... que história mais linda minha amiga!
Emocionante por demais...to embargada aqui.
Beijo grande querida

Lúcia Soares disse...

Cada post que leio, é um "mar" de sentimentos que me chegam em forma de lágrimas.
Se eu, que nem conhecia o Beto, sinto seu amor, imagina você...
Sônia, sinta-se privilegiada. Quantas pessoas sonham a vida toda com um grande amor, que nunca conhecem.
O Beto será sempre seu.
E você terá sempre a certeza de que o amor existe.
Beijo!